Não vejo nada na Revelação que me incline a posição escotista.
Deus desejou a Encarnação do Verbo como remédio à humanidade, ou enquanto um Bem essencial em si mesmo, independente do pecado humano que é um mero acidente? E querendo-a enquanto remédio, não poderíamos pensar que Deus, sendo causa primeira e única de todas as coisas, condicionava seus movimentos e decisões ao antecedente da ação humana (pecado) trazendo sua teofania como consequência (encarnação). Deus agiria ainda de modo independente, nos dando a encarnação concebida somente enquanto remédio, o qual só veio existir à partir doença? Esses basicamente, são os questionamentos que conduziram Scoto a seguinte assertiva: «Cristo não encarnou por motivo do pecado; mesmo que alguém nunca pecasse, seria o supremo entre os viventes. (Rep. Par. d.41, q. única, n.8, t. XXII, p.482a; Cf. Oxon., d.13, q.4, n.10, t.XIV, pp.354b até 355a). Esse é um dos fundamentos filosóficos da tese scotista, tendo ainda os teológicos.
Ilações filosóficas não devem ser o primeiro passo em algo assim. Onde, na Revelação, temos um dado que afirme a Encarnação como algo que viria a acontecer de uma forma ou de outra? O que temos é o contrário disso, pelo menos até onde percebo.
Concordo Thiago. A Filosofia cristã é fonte mediata da revelação, estando, pois, subordinada a Teologia enquanto fonte imediata. Porém, é certo que na Filosofia a serviço da Teologia, poderemos encontrar a luz necessária para esclarecimento de pontos até então nebulosos da Revelação. No campo Teológico, alguns fundamentos usados no desenvolvimento da teoria scotista: a) A predestinação de Cristo em vir a ser o primogênito de toda criação, e dentro dessa criação, constituir-se, Ele, encarnado, a imagem visível e perpétua do Criador; b) Todo amor implica comunhão. A perfeição do amor se constitui na união mais íntima do ser amante com o ser amado, o que só se daria entre o Criador e a criatura pela união hipostática; c) Na maternidade universal de Eva, similar à Maria. Da virgem e imaculada, o Verbo tomaria a carne para habitar no meio da criação, fosse ela Eva (antes do pecado adentrar ao mundo, gerando os filhos perversos de Adão) ou da virgem e imaculada Maria (após o pecado da humanidade, cujos remidos renascerão pela ressurreição na humanidade do Verbo feito homem no ventre de Maria). d) Na recapitulação da humanidade, elevada à deificação na união hipostática, sendo confirmados no estado de justiça e beatitude eterna (sem que o mal pudesse vir lhe a impor qualquer domínio), se livremente Adão e Eva tivessem vencido a tentação e o pecado, tal como, aqueles anjos, que não aderiram a rebelião luciferiana. Todos esses pontos já eram defendidos na Patrologia, logicamente, antes, apartado e não submetido a teoria de Scoto. Assim, temos não apenas na Filosofia, mas também na Teologia, pontos a meu ver, interessantes e respeitados a serem considerados na construção dessa teoria Cristológica.